sábado, 25 de novembro de 2017

QUANDO O RISO É O MELHOR REMÉDIO

Os Doutores da Alegria animam crianças e adolescentes hospitalizados em instituições públicas há 26 anos. Descubra como foi o início dessa história inspiradora.


Tudo começou em 1991, quando o ator Wellington Nogueira decidiu levar, pela primeira vez, o trabalho de artistas profissionais especializados na arte do palhaço a alguns hospitais brasileiros. Wellington havia integrado o Clow Care Unit, programa da Big Apple Circus, lançado em 1986 pelo ator Michael Christensen, em Nova York, que leva a alegria do circo a crianças hospitalizadas nos Estados Unidos. "Ele resolveu tentar aqui um projeto parecido, enquanto colegas faziam o mesmo na França e na Alemanha", afirma Luis Alberto Vieira da Rocha, diretor-presidente dos Doutores da Alegria.

Na época, ele conta, os preparativos deram um trabalho danado. "Mas valeu", afirma. "Em setembro daquele ano, numa luminosa iniciativa do Hospital e Maternidade Nossa Senhora de Lourdes, em São Paulo, que hoje é o Hospital da Criança, teve início o nosso programa", lembra. Doutores da Alegria foi o nome dado ao projeto recém-nascido. Hoje, 26 anos depois, é difícil encontrar quem nunca tenha se emocionado com eles ou, pelo menos, ouvido falar dessa turma que já arrancou gargalhadas de mais de 1,2 milhão de crianças e adolescentes internados em hospitais públicos.

O que ninguém sabe é que, quando o projeto nasceu, os hospitais brasileiros tinham uma estrutura diferente da que vemos hoje. Não havia, por exemplo, diferenciação entre ala infantil e a ala adulta. Além disso, a ideia de palhaço era basicamente associada ao circo e a proposta de levar alguns deles para dentro de um hospital não era muito bem aceita.  Para vencer o preconceito, o fundador da ONG fez um trabalho de convencimento com as diretorias hospitalares. Seu principal argumento era que a atuação dos Doutores da Alegria, como integrantes do quadro profissional dos hospitais, poderia trazer bons resultados para os pacientes. Foi assim, aliás, que surgiram os besteirologistas, palhaços que fazem paródia de médicos.

Desde o início, a proposta era de que o palhaço tivesse uma função permanente e não fosse apenas um visitante. E não é que deu certo?! Prova disso é que, hoje, os Doutores da Alegria têm em seu quadro 65 colaboradores - entre eles claro, estão cerca de 40 artistas com formação em artes cênicas e outras disciplinas afins que realizam o trabalho nos hospitais. O fundador da ONG, Wellington Nogueira, continua na organização e entre os atores mais antigos no grupo estão Vera Abbud, a primeira palhaça a acompanhá-lo em 1991, Thaís Ferrara e Soraya Saide, que chegaram em 1993, e Raul Figueiredo, besteirologista desde 1995. "Quando os Doutores da Alegria começaram esta atividade no Brasil, decidimos que o trabalho deveria ser realizado por pessoas cujo ofício fosse o teatro, o circo, ou seja, que fossem artistas profissionais", afirma o diretor-presidente.

Ao contrário do que muita gente pensa, esses artistas não são voluntários. Eles são profissionais remunerados e especialmente treinados para seguirem, em dupla, a rotina médica de visitas a pacientes da ala pediátrica. O trabalho exige disponibilidade mínima de 18 horas semanais para as visitas sistemáticas aos hospitais - realizadas duas vezes por semana, 06 horas por dia - e o desenvolvimento do seu repertório artístico.

O Programa de Palhaços Besteirologistas ocorre de forma gratuita somente em hospitais públicos de São Paulo e do Recife. Só em 2015, foram realizados 167 mil visitas a pacientes, num total de 67.754 encontros com crianças em 07 hospitais paulistanos e 04 hospitais recifenses. Entre os adultos - incluindo acompanhantes e profissionais dos hospitais - foram 99.227 visitas. No Rio de Janeiro, eles também trabalham com o Projeto Plateias Hospitalares, que leva outras formas de arte a 07 hospitais públicos e também se sabe que existem outros projetos com o mesmo mecanismo de trabalho, em entreter crianças e passar alegria e valores a esse momento delicado como o Sonhando Juntos, projeto que utiliza voluntários.

     Voluntários do Projeto Sonhando Juntos - RJ

A ONG Doutores da Alegria é mantida por patrocinadores, sócio-mantenedores, que incluem pessoas físicas e jurídicas, doadores e apoiadores. "Na maioria dos casos, estes recursos chegam por renuncia fiscal do contribuinte, via benefícios da Lei Rouanet", explica Luis Alberto. Além das doações, as empresas também podem apoiar a causa por meio de intervenções artísticas e palestras, campanhas  de marketing, licenciamento de marca e compra de produtos.

Formação em Besteirologia 
Nesses 26 anos, os Doutores da Alegria também inspiraram cerca de 1.000 iniciativas similares em todo o país, motivando uma série de parcerias que incluem o Ministério da Saúde e a iniciativa privada. Por terem consciência dessa responsabilidade, em 2007, a organização lançou o Palhaços em Rede, programa de Orientação e Formação para grupos e pessoas que atuam em hospitais utilizando a figura do palhaço. No mesmo ano, foi criada a Escola dos Doutores, que oferece desde cursos para públicos diversos, como o Palhaços para Curiosos, até cursos avançados para quem já está atuando. "Todo o eventual lucro gerado pelos cursos pagos é direcionado à manutenção de nossas ações sociais, que incluem os programas de formação gratuitos", diz Luis Alberto. Um dos projetos mantidos pela organização e coordenado pela Escola, por exemplo, é o Programa de Formação de Palhaços para Jovens, que tem cunho artístico e social permite que jovens de 17 a 23 anos de comunidades populares iniciem uma carreira artística voltada para a linguagem do palhaço e recebam, durante 02 anos, uma bolsa-auxílio mensal para custear transporte e alimentação.

Sobre o trabalho dos Palhaços Besteirologistas, embora o foco seja artístico, o diretor-presidente da ONG acredita que alguns resultados podem atestar a transformação do ambiente hospitalar a partir do encontro da criança com o artista. "Com base no que observamos, uma criança mais alegre e mais animada colabora mais e responde melhor ao tratamento", afirma. Para ele, o bom humor pode ajudar o paciente a se relacionar com o tratamento, os profissionais e os desafios da doença de uma maneira mais rica em possibilidades, desde passar por esses processos com esperança até tirar deles lições positivas. "Acredito que o bom humor pode nos lembrar que existe vida antes da morte", conclui.



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